Negligências pontuais podem transformar um dia de trabalho em tragédia, especialmente perto de rede de energia.
Causas recorrentes e armadilhas perigosas
Entre os fatores mais comuns para acidentes estão o planejamento inadequado ou inexistente, a falta de identificação prévia das linhas de energia e a seleção incorreta do equipamento. Operadores não familiarizados com o modelo específico da máquina, ausência de observadores e comunicação ineficaz durante a operação também figuram entre as falhas mais frequentes. Outro ponto crítico é a subestimação do risco de arco elétrico, capaz de provocar choques mesmo sem contato direto.
A confiança excessiva na experiência do operador e a resistência em solicitar o isolamento das linhas para “ganhar tempo” ainda são hábitos perigosos encontrados em muitos canteiros. E, mesmo com treinamentos prévios, a falta de reciclagens periódicas sobre novos procedimentos e tecnologias mantém o risco elevado.
Normas, fiscalização e lacunas
As normas brasileiras, como a NR-10 e a NR-18, estão alinhadas aos princípios das melhores práticas internacionais, mas carecem de exigências mais rigorosas, principalmente, quanto ao uso de tecnologias de proteção, fiscalização de locadoras e certificação formal do isolamento de redes. A obrigatoriedade de observadores treinados e a comunicação padronizada de incidentes também aparecem como pontos de melhoria.
Tecnologia como aliada
Sensores de proximidade, sinalizações inteligentes e bloqueios automáticos já estão disponíveis no mercado nacional, tanto em máquinas novas quanto em kits de adaptação. Essas tecnologias detectam linhas energizadas, emitem alertas e, em alguns casos, bloqueiam movimentos perigosos. Apesar de eficazes, sua adoção ainda é limitada pelo custo, pela ausência de exigência legal e pela necessidade de manutenção e treinamento adequados.
É importante reforçar que esses recursos devem complementar e não substituir as práticas tradicionais como avaliação de risco, isolamento da rede e observação constante.
Aprendizados globais e dados que preocupam
Estudos internacionais mostram que setores como arboricultura, elétrica e construção estão entre os mais expostos, com PEMTs montadas em veículos liderando as estatísticas de acidentes fatais por proximidade com redes.
Nos Estados Unidos, cerca de 69% das mortes elétricas ocorreram com profissionais não ligados diretamente à área elétrica. No Brasil, a provável subnotificação dos casos acende um alerta para a necessidade urgente de reforço nas políticas de prevenção.
Mudança de cultura e treinamentos inegociáveis
Para reduzir os riscos, a cultura de segurança deve se apoiar em cinco pilares:
- Consciência real do risco invisível, entendendo que a eletricidade oferece perigo mesmo sem contato.
- Planejamento e comunicação eficazes, com consulta formal às concessionárias antes do início das atividades.
- Responsabilidade compartilhada, envolvendo gestores, operadores e terceirizados.
- Uso inteligente de tecnologia, como complemento às práticas já estabelecidas.
- Cultura de reporte e aprendizado, incentivando relatos de incidentes e quase-acidentes.
Treinamentos práticos e teóricos sobre riscos elétricos, uso de planos documentados, simulações realistas e reciclagens periódicas são medidas obrigatórias. E, sempre que possível, a confirmação formal da desenergização da rede deve ser obtida junto à concessionária antes de qualquer operação.
Fonte: Abrasfe.










